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Capítulo 22 - Hall. Kaylee Hall. - {3}


Nota: se o último capítulo que você leu foi o 20, não leia este. Postamos 2 de uma vez. O 21 está logo ali embaixo.

Adorados seguidores,
É com profunda tristeza e pesar que comunicamos que, agora que deixamos Kaylee bem resolvida e encaminhada, nossa misão se cumpre, eo Sunset se encerra. Agradecemos a cada um que passou nesse blog e deixou uma marca, à Lara sempre ausente que nos propiciou criação deste projeto, e a Bel, de Beyond My Dreams, por ser sempre tão presente e incentivadora.
E assim, com muita dificuldade, terminamos Sunset. Agradecemos novamente você que está lendo, que conhece Kaylee, Luke, Mel... Agradecemos profundamente.





Meus nós dos meus dedos estavam brancos. Luke encarou-me – e milagrosamente, eu vi um brilho de vida lá dentro --, e encarou minhas mãos, retorcidas. Sinal do meu nervosismo (bela advogada que sou, transparecendo emoções).  Porém, não durou muito. Ele virou o olhar para o nada novamente.
A máscara se quebrou por um momento, mas logo voltou, totalmente impassível. Aquilo me deixou pior.
-- Número um?
-- Réu culpado. – eu ouvi uma voz profunda ressoar aquela frase. Parecia mil vezes mais alta na minha cabeça. Aquilo se chocou contra meu crânio e ensurdeceu meus ouvidos. Doía e ardia como uma facada.
Vi o homem asiático se sentar, o número um. Era um bom jurado, não tinha emoções. Provavelmente tinha filhos, podia ser um bom marido, não sei. Mas no momento, não pude deixar de odiá-lo, de sentir uma enorme fúria. E tristeza. Por que você faz isso consigo mesma, Kaylee? Por quê? – Número dois? – a juíza perguntou.
 -- Culpado. – Por quê, hein, Wilson? Primeiro que você é horrível em casos criminais. Não tem especialidade nisso. Você cuida dos casos chatos e financeiros. De empregados processando empresas. De casais brigando por guarda e dinheiro. Você é tão chata quanto seus casos. Se algo der errado, se um caso for perdido, há a possibilidade de se recorrer – e o estrago não é muito grande. Mas um assassinato? Não era para você se envolver com esses casos, de crimes horrendos. É difícil demais. E a culpa, além do nojo, ás vezes... O caso já perdido... Prisão perpétua e execuções. Sabia que alguns réus convidam seus advogados para assistir as injeções letais? Suas execuções? É que eles gostariam de ver um rosto conhecido (e mais amigável) do que os outros aleatórios que vieram apenas pela vingança.
E não era para você se envolver nesse caso. – Número três? – Você é louca? Ele é louco. Como pode ter me deixado ser sua advogada? Médicos são afastados de casos em que estão emocionalmente comprometidos; assim como policiais e advogados. O que você está fazendo, Wilson? O que você ganha com isso? Não o caso, não o dinheiro. Por que você está se remoendo com todo culpado que soa aqui no tribunal? Você, por acaso, aceitou o caso numa esperança desesperada e cega de anular todas as provas contra ele, de invalidar a verdade? Você não queria encará-la – que o homem que ama é um cruel assassino. Você sonhou em vencer esse caso, em pegar o real criminoso, e voltar a ser humana. A ter sentimentos, porque nos últimos anos você foi um robô. Você queria ser humana e casar com ele. Quando finalmente se deixou ter um sentimento, tudo se resultou em uma tremenda decepção e numa avassaladora dor, não? É por isso que se chamam “decepção amorosa”.
Você queria que tudo fosse mentira. Mas não é.
Quatro, cinco, seis; todo mundo sabe o que ele fez.
Como pode ter outro fim?
Sete, oito, nove. Se ele não é assassino, comprove.
Quando se há tudo contra ele? Quando tudo é irrefutável?
 Dez, onze, doze. O réu tem psicose. Treze, quatorze, quinze. Culpado, culpado, culpado também.
-- Jurado número dezesseis?
Uma mulher piscou, confusa. Era a última; era a mais nova. Gaguejou, respirou fundo, fechou os olhos. Abriu-os e então disse, assustada: -- Inocente.
--- ---
Eu defendera aquele caso porque queria que tudo fosse mentira. Que ele fosse... Meu Luke, e não um Henry assassino. E achei que se ao menos alguém acreditasse em mim, acreditasse... Comigo... Eu teria certeza da inocência do homem que amava desde meus tempos de menina.
Mas eu só senti pena da última jurada.
Porque ela fora enganada pelo charme e lábia de Henry tal como eu fora um dia.
Mas era claro que não era o suficiente para livrá-lo. Homicídio triplo, qualificado, falsidade ideológica.
O veredicto era quase esperado.
Morte.
Mas e se por um milagre eu não estivesse envolvida demais com o paciente, e a operação tivesse sido um sucesso? E se todos os outros jurados estivessem de acordo com a última moça?
E se o assassino Henry Allen voltasse às ruas? Isso me deixaria feliz?
Talvez deixasse a advogada feliz por uns instantes pelo triunfo, mas a Kaylee, a humana, se arrependeria até a última vértebra. E toda vez que abrisse o jornal na página policial e se deparasse com um homicídio sem solução, ia pensar se não fora ela a colocar a faca nas mãos do criminoso.
Ele só me disse uma coisa antes de ser algemado e levado para fora do tribunal:
- Não vá me ver lá, Wilson. Não vá!
Nem tinha planos de visitá-lo na prisão, nem pude vê-lo sendo submetido à viatura.
Depois da saída do júri, e logo então, do réu, foi permitido que os demais deixassem o tribunal.
Esperei que todos saíssem para sair com Mel – Era um caso horrendo, psicótico, que atraíra a atenção parcial da mídia, e conseqüentemente um pequeno público.
- Sinto muito – Disse ela com a voz fraquinha, como se Luke (Henry, Kaylee, Henry) já estivesse morto.
- Não é a primeira vez que perco um caso, Mel, você sabe disso – Respondi sóbria.
- Mas seria a primeira se não regássemos isso à margaritas.
- Muitas margaritas – Concordei com um sorriso triste, as lágrimas da derrota removendo o rímel.
--- ---
- Champagner ou margaritas? – Indagou Joe atrás do balcão.
- Margaritas – Disse eu.
- Oh, pena, Kay. O próximo vai ser melhor, tenho certeza.
- Obrigada.
Eu e Mel sempre íamos àquele bar, muito popular na escola onde Mel trabalha, depois de tribunais. Quando eu ganhava os casos, comemorávamos com champagner. Quando perdia, afogávamos as mágoas em margaritas. E Joe, nosso eterno barman, já conhecia nossa tradição.
- Kaylee? Kaylee Wilson?
Deja vú.
- Gregory... Hall.
- Kaylee, desculpe-me por tudo que eu disse naquele dia nos jardins... Eu não tinha o direito...
- Leu em algum jornal o caso de Henry Allen... E o nome de seu advogado, não?
- Sim, Kaylee, e eu me sinto culpado. Eu não tinha o direito de te envolver nessa história.
- Poupe suas desculpas para quando for você quem matar toda a família com uma faca de 47cm, Greg.
- Está brava comigo?
- Não – Respondi honesta pedindo outra margarita.
- Bem... – Começou Mel naquele jeito inquieto de sempre – Eu fiquei de olho em coisas melhores do outro lado do bar, então... Vou atrás. Divirta-se, Kay – Piscou com malícia.
Ri nervosa
- A Mel continua a mesma – Admirou-se ele.
- Você também – Falei sem pensar, ainda nervosa como uma adolescente pela nossa proximidade.
Ele hesitou e caí em mim.
Com tanta coisa para se falar, Kayle Wilson diz para um ex-cretino criminoso que ele não mudou nada.
- Quer dizer... Fisicamente. É claro que cresceu e criou muitos músculos – Agora sim eu estava vermelha como um pimentão – Quero dizer, é claro que mudou um pouco, mas fisicamente continua muito boni... – Um buraco para Kaylee Wilson se esconder, por favor? – É. Mel continua a mesma – Consegui finalmente elaborar uma frase aceitável.
- Eu mudei, Kaylee.
- Eu também – Admiti me enterrando em minha margarita.
- Então prazer em conhecer. Hall. Gregory Hall.
- Wilson. Kaylee Wilson.
- Talvez não por muito tempo.
- O que disse?
- Nada, Wilson. Já é tarde, mas... Talvez possamos... Sei lá, jantar, hoje, amanha... Ou quando for melhor pra você.
Qualquer garota sensata que não quer se esconder de qualquer sentimento, diante de tal proposta proferida por tal escultura grega diria sim sem pensar duas vezes e faltaria até ao enterro dos pais para viabilizar o encontro.
Mas eu não era sensata, e fugia de meus sentimentos como o diabo foge da cruz. Então continuei a fitá-lo com um sorriso leve e interessado como se ele não houvesse dito nada.
- Quer saber, Kay? Pose de bom moço não combina comigo – Abriu um sorriso malandro e desarmador – Quinta, às dez, no restaurante tailandês no fim dessa rua.
- Hoje é quinta, e são dez horas.
- Estão vamos logo ou nos atrasaremos – Ofereceu o braço.
Olhei pros lados procurando Mel – talvez ela me desse uma luz – e a encontrei... Digamos... Entretida demais para se lembrar que a amiga tímida e anti-social se encontrava do outro lado do bar.
Então mandei a um lugar pouquíssimo ortodoxo o que qualquer outra pessoa queria – Eu passara a vida tentando agradar meus pais, então Luke, meus professores, meus clientes, meus juízes. Mas Kaylee Wilson queria dar-se uma nova chance, e queria sair com o engenheiro loiro que lhe estendia o braço.
Pulei do banco, toquei de leve seu antebraço e saímos do bar.
Talvez fosse mais poético se, contrastando contra nossas silhuetas, estivesse o magnífico e inexorável pôr-do-sol.
Talvez não.
Talvez o pôr-do-sol pertença a um garoto chamado Luke (Luke, não Henry) e uma colegial chamada Kaylee. E ao amor presumido entre os dois.
Talvez a advogada e o engenheiro conquistem, um dia, a própria paisagem, ou cada qual encontre um alguém ainda mais medíocre para dividir um cenário.
Eu sempre vou lembrar-me dos beijos e confissões no penhasco quando ver o sol se pondo no litoral, tal como qualquer menina se lembra do primeiro amor.
Mas a vida de Kaylee Hall não se resume a poucas horas laranjas no fim da tarde. Ops, eu disse Hall? Um pouco cedo para isso. Por enquanto é Kaylee Wilson. A advogada Kaylee Wilson. A seu dispor.
--- ---
Já era de madrugada. Estava presa nos braços de Greg e descansava minha cabeça em seu ombro. Estava descalçada, assim como Mel, depois de perdemos os nossos sapatos na trilha. Sentia a grama molhada de orvalho e o ar puro. Ele me apertou e eu suspirei.
Mel dormia no colo de seu novo namorado. Não contei sobre o anel que ele me pediu para que escolhesse.
- Olha - praticamente me acordou com a voz calma, apontando para o horizonte. - O sol está nascendo...
Sorri. E eu o beijei na fraca luz do nascer do sol.


FIM


Capítulo 21 – Adams. Luke Adams. - {0}


O dia tinha começado bonito, mas naquele canto da cidade parecia ter passado um furacão. Não era apenas uma delegacia ― que infelizmente já estivera há alguns anos ―, mas sim uma prisão. E... Alguém estava lá dentro.
Fiquei algum tempo olhando apenas para o chão, dando voltas. Mexi no meu casaco, inútil pelo calor, procurando algo nos bolsos. Nada. Senti um calafrio, mas como já disse, não era de frio.
Eu parei e olhei para aquilo. Concreto, concreto e pouquíssimas janelas. Parecia um castelo das trevas. Como advogada, eu deveria estar acostumada com prisões, ladrões, meliantes e condenados... Mas no momento, eu não era a invencível advogada Wilson, que conseguia reverter até uma pena de morte.
E sim apenas uma garota de 16 anos com muita mágoa em seu coração.
E alguém estava lá dentro. Ele.
O pior não foi passar por aquela maldita revista, confirmar o horário de visitas sete vezes durante a semana nem tampouco vê-lo naquela maldita roupa, como se ele fosse igual a todos aqueles outros, e inferior aos que estavam do lado oposto do vidro.
Foi ver como ele odiou me ver lá.
Sentei no banco indefesa, vendo ele através daquele maldito vidro. Peguei o fone com as mãos trêmulas e o aproximei de meu ouvido. Ele repetiu o gesto, com contrariedade e irritação.
- Eu vou te tirar daí, Luke.
- Meu nome é Henry.
- Eu sou advogada e você é meu novo cliente. Mas por que raios você confessou, aquilo, Luke?
- Porque eu fiz! – Disse rude, áspero e inesperadamente calmo – E meu nome é Henry, Wilson.
Ouvi-lo me chamar pelo sobrenome doeu. Era como se tudo que eu passara fosse em vão.
- Não seja ridículo... Henry. Você sabe que não cometeu crime algum...
- Você quer um relato verdadeiro, Wilson? Quer saber mesmo o que aconteceu? Eu matei minha mãe enforcada com o próprio lençol, e dei um tiro na cabeça do meu pai. Bem-na-têmpora – Ele me olhava com frieza – Fiz acharem que meu pai assassinara minha mãe e cometera suicídio. Mas a minha irmã sabia. Bati o carro de propósito e a esfaqueei com uma faca de exatamente quarenta e sete centímetros - e eu sei porque eu medi -. Foi bem no coração, e jorrou sangue para todo lado. Então eu fugi. Fugi por um bom tempo, consegui me matricular na Valley High School. Daí eu conheci você. O Gregory ia me entregar e tive medo de estar começando a me apaixonar por você. Então eu parti. Satisfeita?
Começando a se apaixonar? Eu o amava completa e incondicionalmente e ele estava começando a se apaixonar?
Tem uma coisa que você aprende na faculdade de Direito. São sete longos anos, sete longas madrugadas, sete longos casos. Sete provas. E em só sete minutos. 
Setenta por cento do meu curso era sobre casos financeiros, e a coisa mais divertida, no máximo, eram os divórcios. Um calouro nunca, nunca, nunca, via um caso criminal. Era muito mais complicado.
Eu me lembro do meu primeiro caso criminal. Eu me lembro quando eu parei de ser a caloura. Não foi na formatura que eu me senti uma advogada. Foi quando eu entrei nesse mesmo presídio da cidade, acompanhada do meu grupo avançado - nerd, oi -, e me sentei na frente de um adolescente (18 anos recém-feitos) acusado de roubo de uma loja de eletrônicos, que acabou gerando uma agressão. Não era o maior dos sociopatas, mas o medo dele... Me contagiou. Foi horrível. Foi horrível cuidar de um caso sem volta (câmeras e mais câmeras o filmaram cometendo o delito), foi terrível lidar não só com a corte, mas sim com a sua família e com o próprio. Foi horrível, terrível, e outros adjetivos.
Quando o julgamento terminou, eu educadamente sai do tribunal e chorei no banheiro, meu primeiro choro depois de anos. Uma das minhas professoras me seguiu até lá e meu o maior e melhor conselho da minha vida.

Não sinta. Não se importe. Só trabalhe.

E foi o que eu fiz.

Luke - Henry - falou novamente, com aquela voz fria e cortante como uma faca. Como a faca que ele matara seu pai?
Não, ele não podia...
Não, eu não posso. Não posso me importar.
- Acho que você deve ir embora, Wilson. Vá. Agora.
- Quem está cuidando do seu caso? - disse, como qualquer robô de advocacia.
Ele piscou, uma piscadela de humanidade (e confusão), porém logo a frieza voltou. - O quê?
- O Estado é obrigado a proporcionar um advogado. Ele já foi direcionado pra você? - eu repeti, dura.
Henry - Luke - demorou um pouco para responder, desgostoso: - Não, mas Wilson...
Não deixei ele terminar. - Ótimo. Kaylee Wilson acabou de se livrar de mais um caso chato de divórcio. Vou repassar o caso da antiga sra. Applebee, atual sra Yang, para o Mark. O estado não paga muito bem, mas vou fazer uma exceção para ajudar um velho amigo. - Pisquei e saí, deixando-o desconcertado.

Saí, só para voltar para casa e chorar até dormir.
Senhoras e senhores do tribunal, esta é a advogada Wilson. Kaylee Wilson. A pobrezinha e medíocre Kaylee Wilson.


Hall, Gregory Hall - {3}


Era impossível olhar para aquele lugar sem ser tomada por recordações. Valley High School estava igual a quando eu a deixara. Os estudantes jogados no jardim, banhando-se ao sol, fazendo deveres ou simplesmente conversando. Era a Valley High School que eu conhecera, mas eu não era mais uma aluna, e não tinha mais um vizinho de janela.

Embora fosse amiga de Mel, eu sempre arranjara desculpas para não ir a seu local de trabalho. Mel não insistia porque sabia o verdadeiro motivo de minhas recusas. Estar lá doía demais.

Então me lembrei que estava lá única e exclusivamente para fazer as pazes com Melanie e devia esquecer o passado.

O maior problema era que eu não sabia onde encontrá-la. Para mim, os professores se desmaterializavam no instante que saiam das salas de aula. Nunca parara para pensar onde era a sala dos professores.

- Kaylee Wilson? – Uma voz me trouxe de volta ao presente. Embora fosse agradável e macia, para mim foi como um banho de água fria. Me virei indignada:

- Gregory Hall?

Ele congelou por um momento, mas tentou se recuperar. E eu me assustei com a minha capacidade de reconhecê-lo depois de tanto tempo. Sete anos. Era incrível como tínhamos mudado. Até eu consegui uns centímetros a mais. ― Olá, Kaylee. Que bom que você se lembra do meu nome.

Tentei não corar, com toda a minha força. Querendo ou não, eu ainda lembrava alguma coisa da escola. Não era todo o dia que era quase violentada. Felizmente, não tinha toda a lembrança na minha mente. O final era... Era... Complicado.

― Olá, Gregory ― gaguejei.

Talvez soe muito adolescente, mas na minha vida, até agora, eu nunca tinha passado tanta vergonha. Talvez até Greg ― Sr. Hall, sr. Hall, você não tem mais 16 anos ― se arrependia de ter me cutucado, vi nos olhos dele.

A vontade de sair correndo do High School foi tão grande que meus pés começaram a formigar. ― Eu devo estar deixando você numa situação difícil ― disse, olhando para baixo, depois de alguns de um silêncio mutuamente embaraçoso. ― Só queria ver se era você mesmo. Pensei que nesse ponto, já teria se mudado daqui ― sorriu triste.

No pouco tempo em que vivi ― talvez não tão pouco assim ― e nos poucos encontros que tive depois da formatura, antes de me fechar completamente para o trabalho, era impossível não ver em seus olhos uma faísca de cantada. Sério, Hall? Depois de tudo que passamos juntos?

Não sei o que aconteceu em mim, só não consegui encontrar a coragem e a raiva do começo do diálogo. Eu estava bem acostumada em apagar qualquer sentimento como uma boa advogada.

Ou como uma boa depressiva.

Mas não era momento para pensar nessas coisas. Só respondi com a verdade.

- Vim visitar Mel, ela é professora. O que você faz aqui? – Tentei soar simpática. Não deu certo. E o pior. Eu consegui ser rude.

Gregory sorriu com a minha mudança de humor. Eu sabia que tinha visto uma faísca.

- Me formei em engenharia. Vão construir um ginásio de esportes e um novo prédio. O número de alunos cresceu bastante e as acomodações antigas não eram suficientes... — meu Deus. Existem pessoas em Wilmington! - E você? No que trabalha?

- Sou advogada.

- Aposto que bem sucedida. ― Ah. Lindo. Faísca. Faísca. ― Kaylee, eu estava querendo conversar uma coisa com você. Será que podíamos sair para um café?

Não, não! Não quis ir à festa ontem. E não quero ter um encontro hoje.

Nem nunca, pra falar a verdade.

― Eu... ― eu não conseguia responder. E então... Talvez fosse o sol nos meus olhos ― mesmo o dia não estando lá muito bonito ―, ou o fato de não ter dormido muito bem noite passada, graças aos telefonemas incessantes da Mel e os julgamentos em andamento. Não sei o que foi. Só sei que parei e o olhei melhor. Pelo amor, Greg já tinha 25, 26 anos. Eu já tinha 25, 26 anos. E querendo ou não, com sono ou não, com sol ou não, o único em que eu via um possível estuprador e mercenário era no Greg de 16, 17 anos.

O tempo cura a maioria das coisas e seria infantilidade tratá-lo mal, de modo que estava me esforçando para ser simpática, mas isso não fazia de mim a melhor amiga dele. Quem ele pensava que era pra me chamar pra sair, assim?

- Não posso, tenho que visitar Mel. Mas se é tão urgente, fale agora. Nada o impede.

- Henry está preso, Kaylee.

- Mas ele é inocente! – Gritei agudo, deixando a máscara de mulher séria cair. Kaylee, será que uma vez na vida você dizer algo que não pareça ter saído da boca de uma garotinha de quatro anos?

- Kaylee, ele confessou.

- Então... Ele estava sob pressão, ou quis proteger alguém! Os pais dele...

- Os pais dele estão mortos, Kay – Disse sombrio. Eu recuei, assustada como uma criança - Ele os matou. Depois matou a irmã, provavelmente querendo o dinheiro só para ele.

- Você está mentindo – Joguei minha última cartada, tentando não hesitar.

- Vá à delegacia. Vá à prisão. Converse com ele, se quiser.

- Mas, se ele era culpado, por que me contaria sobre o crime?

- Os assassinos também amam, Kay. Tenho certeza que ele amava você. Mas isso não faz dele menos assassino, menos sujo, menos desprezível. Quando descobri, meu primeiro impulso foi denunciar. Queria te proteger dele. Mas eu tinha feito aquela burrada, te agarrando na floresta, e ele tinha com o que me chantagear. Estávamos no mesmo barco.

- Você queria me proteger? Você tentou me estuprar!

- Eu sei. E me arrependo disso todos os dias. Mas eu era idiota, Kaylee. E imaturo. Eu achava que você me queria também, e estava se fazendo de difícil... Mas de um jeito bizarro eu me importava com você.

As palavras me faltavam.

Olá, Kaylee. Esse é o momento em que você esquece que esse encontro aconteceu e vira as costas.

Quando parte da minha consciência não falava de coisas de sete anos atrás, até que era coerente. ― Desculpa, Gregory ― pensei que, falando o nome dele, ele acharia que não precisávamos conversar para “reviver os bons tempos” e eu poder voltar para o meu cotidiano premeditado, seguro e quentinho. Que não envolvia o Valley, nem ele, e nem ninguém. Tirando a Mel, claro. ― eu estou atrasada. Talvez outra hora?

E que tal nunca?

― Kaylee, por favor, me deixe explicar...

O gongo do momento era o sinal da próxima aula. Em todo o meu tempo estudantil, eu nunca fiquei feliz com ele, mas agora... Deus realmente existe.

Falando sério, a verdade era que eu tinha medo de Greg. Muito medo. Não medo que ele me arrastasse pra floresta. Me convencera que ele não era um estuprador acostumado a conseguir o que quer. Mas medo do que ele sabia. Medo... Do quanto ele sempre estava certo. Mesmo com parte do meu cérebro aceitando a cantada disfarçada dele. Eu senti medo.

Juro que eu corri. Eu poderia ter tido mais classe, ter parecido mais dama, mas eu corri. E me arrependi disso, pelos meus pés miando nos saltos altos.

Não é de mim que você tem que ter medo! Não mais! E não agora! ― Escutei Greg gritar.

Quando virei a cabeça, já do outro lado do pátio ― com direito a alguns alunos olhando para mim ―, não tinha ninguém.

Ele tinha ido embora.

Mas não por muito tempo.



Capítulo 20 – Recomeço - {4}


Queridos leitores,
Geralmente é a Raissa que dá a cara a bater, mas resolvi dar as caras aqui e notificar decepcionadamente que este capítulo que vos serás lido é o último da saga que acompanhaste – Baixou a professora de gramática.
Piadas à parte, o Sunset se pôs e estamos na escuridão há décadas. Eu poderia dizer que nossos apelos farão Lara se dedicar, mas seria iludi-los. O que nos resta, então? Criar nossa própria trama e passar para o papel o destino que achamos que Kaylee, Luke, Mel, Greg e companhia devem traçar.
Com um milhão de desculpas por não cumprir o prometido no início, comunico que eu e Raissa daremos continuidade ao Sunset. Caso vocês queiram, tal como nós, imaginar e esboçar a história, ficaremos encantadas e postaremos aqui.
Mil beijos, mil desculpas, e boa semana para todos.

Eu me formei no colégio. Formei-me em direito na faculdade - uma escolha aleatória -, tenho um escritório chique no centro, ganho em torno de 150 mil por ano. Só saí de Wilmington para cursar a faculdade. Para mais nada.
Nunca mais vi meus pais também. Às vezes me pergunto se ainda estão vivos.
Minha vida passou pelos meus olhos e, incrivelmente, nunca percebi.
Lembro-me como se fosse ontem, quando eu entrei no meu quarto da escola, há exatamente sete anos atrás e encontrei Mel me esperando. Ela ficou apavorada quando me viu soluçando como uma desesperada. Ficou apavorada também até o final do ano letivo, até o dia em que resolvi mudar.
Lembro-me também da dor. Uma agonia tão aguda, crescente. Você não pode ignorar, não pode esquecer, não pode subestimar. No entanto, eu ainda a sinto, agora, no fundo do meu peito. Não me vêem mais as lagrimas. Só a dor.
O ultimo dia em que chorei foi quando eu me formei, há seis anos. Prometi a mim mesma nunca mais chorar. E, até hoje, nenhuma lágrima. Acho que devo me orgulhar disso.
A partir daí, eu mudei. Eu realmente recomecei.
Quando abri meu escritório, - cartão de crédito dos meus pais, acho que devem estar vivos, afinal – me focalizei no trabalho. Totalmente.
A questão era, apesar de a escolha ter sido totalmente aleatória – uni-du-ni-tê com a Mel – eu realmente gostava do que escolhi.
Às vezes, ainda pensava nele. No que estaria fazendo agora. Onde estaria. Mas nada que me consumisse demais. Era só apenas curiosidade. Aquela angústia havia passado há anos.
Era do que eu me convencia diariamente.

O telefone tocou em cima da minha mesa.
-Sim, Natalie?
- Dra. Kaylee, Melanie está na linha.
-Pode passar.
Uma voz alta e animada soou na linha em seguida
-Você vai na festa hoje, não é?
-Oi para você também Mel.
Minha amizade com Mel continuava a mesma. Ela continuava a mesma. Havia chutado a bunda de David assim que ele lhe propôs casamento. Tive dó dele.
Agora só estava tendo ‘casinhos’. Seu mais recente era Justin.
-Vai ou não vai?
-Eu não sei, estou ocupada com uns processos aqui.
-Kaylee, já se passaram sete anos. Quando você vai superar?
-Quem disse que esse é o motivo? Olhe, eu realmente estou atolada com uns processos aqui...
-Você se atola de trabalho porque quer, Kaylee – ela me interrompeu. – O que custa deixar o escritório de lado uma vez na vida e se divertir um pouco?
-Você fala isso porque sua profissão pouco exige de você. É só ir lá e dar a aula.
Mel havia se tornado professora de artes e dava aula para o segundo grau da mesma escola que um dia nós ainda estudamos. Nem combinava com seu gênio maluco. Eu nunca iria imaginar que ela seria professora. PROFESSORA!
-Até parece, é porque você não conhece... E além do mais – ela se interrompeu no meio da frase – Você tem que continuar a viver Kay. Não é só porque Luke foi embora que...
-Que mania de mexer nesse assunto Melanie! Eu já falei que não tem nada a ver com isso. Eu gosto do meu trabalho e profissão. Agora se eu deixo de ir numa festa agora é culpa dele? Faça-me mil favor.
-Não adianta se enganar Kay, você não consegue enganar a si mesma nunca, por mais que ten...
-Tchau Mel.
-Não! Eu ainda não terminei de... – ela gritou.
CLICK.

Mel podia ser uma ótima amiga, mas às vezes enchia o saco. Eu não queria ir à festa, ponto. Porque qualquer coisa que eu faço ou deixo de fazer agora tem a ver com alguma coisa do meu passado?
Voltei para meu processo e comecei a reler o caso com o máximo de cuidado.
Passei o resto da tarde concentrada nele quando o telefone tocou de novo.
-Sim Natalie?
-Desculpe incomodar Dra., mas é que já são nove horas, eu queria sbare s ejá estou dispensada.
-Mas já nove horas? – olhei no relógio pendurado na parede automaticamente – Ah, me desculpe, eu estava tão entertida aqui que nem percebi. É claro, pode ir.
-Obrigada, até amanhã.
-Até. – e ela desligou.
Ok, admito que hoje eu exagerei, normalmente saio do escritório duas horas antes no máximo. Mas não é por causa daquilo que a Mel falou.
Vagamente me perguntei se qualquer dia desses eu explodisse de stress também teria algo a ver com aquilo. Nem um pouco.
Desliguei meu notebook e peguei toda a papelada para examinar em casa quando chegasse. Tranquei o escritório, entrei no carro e dirigi até o meu apartamento.
O caminho era curto, eu não morava tão longe. Só num dos maiores prédios de Wilmington, o que, sinceramente, não é lá grande coisa.
Estacionei na minha vaga por direito e peguei o elevador para a cobertura. Sim, eu morava na cobertura.
Logo que entrei, vi o recado na caixa de mensagens da Mel.
“Olha, eu sei que você está brava, mas convenhamos você é uma cabeça dura. Também sei que você não gosta quando eu toco naquele assunto, desculpe. Mas você tem que entender Kaylee, você já tem 25 anos, tem que viver sua vida. Se atolar de trabalho não adianta, é só um jeito da vida passar mais devagar e dolorosa. Se mudar de idéia, me avisa, eu ainda to com o seu convite pra festa. Pensa no que eu te falei pelo menos”.
Suspirei. Mel não me entendia. Ninguém entendia.
Mas mesmo assim, algumas lágrimas me vieram aos olhos. Não, eu não iria chorar de novo – falei pra mim mesma.
No fundo, eu sabia que estava perdendo minha vida. Perdi sete anos dela.
Deus, eu era tão jovem! Tão indefesa. Indefesa de mim mesma e indefesa da vida. Se eu tivesse tomado um pouco mais de cuidado, não tivesse me deixado levar, não teria me apaixonado.
Infelizmente, fui saber disso tarde demais. Agora ele devia estar na Europa, Inglaterra ou Alemanha talvez, vivendo sua vida e nem lembrando da minha existência.
Eu não estava reclamando. Nem um pouco. Eu sou feliz, ok? Do meu jeito, mas sou. A Mel pode dizer o que quiser, mas no fundo, eu amo o meu trabalho e isso é o mais importante. Ignorei a pontada me dizendo o contrário. Ouvi-la nunca me fez bem.
Fui pro banheiro tomar uma ducha, e, quando sai, vesti meu pijama de flanela preferido. Fiz um chá, fui pro sofá e comecei a reavaliar as cláusulas de novo.
Quando me dei conta, era meia noite. Fechei o notebook e fui direto pra cama.
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Peguei a xícara de café e me afundei no próximo caso. Eram sete da manhã e Natalie só chegava daqui à uma hora. Liguei para meu cliente e comecei a discutir o caso. Bem típico, se divorciaram e queriam resolver a guarda da criança.
Eu odiava esses casinhos pequenos que nem precisam de um tribunal para se resolver. Gostava mesmo de casos como assassinatos e coisas do tipo. Mas, o que infelizmente dava dinheiro, eram os casos pequenos.
Não que eu estivesse reclamando. Minha vida era meu trabalho.
Escutei baterem na porta.
-Entre.
Natalie abriu a porta e entrou.
-Bom dia Doutora. Alguma coisa especial para hoje?
-Sim, ligue para o Dr. Johnson, juiz amigo meu e veja se tem como marcar uma audiência para semana que vem. Ligue também para Bárbara Kane e fale que vou estar livre a partir das duas horas se ela quiser marcar uma consulta. Por agora é só.
-Vou providenciar – e saiu.
Seria impossível arranjar secretária mais eficiente, pensei. Natalie caiu do céu quando eu mais precisava. Meus casos começavam a crescer e eu já não dava mais conta de tudo sozinha quando ela se inscreveu para a vaga. Morena naturalmente, ela havia feito luzes e definitiva. Definitivamente ficou melhor.
Mas, o importante, era que era eficiente, sabia usar os miolos e, não pedia muito de salário.
Voltei para o caso.
O telefone tocou. Eu simplesmente odiava quando isso acontecia, me desconcentrada totalmente.
-Sim Natalie?
-Agendei Bárbara para as 11 horas e o Sr. Johnson não estava no momento. A secretária vai retornar a ligação quando ele chegar.
-Obrigada.
Separei alguns casos para discutir com minha cliente depois e, no meio de tantos papéis em minha gaveta, um em especial me chamou atenção.
Meu diploma dos tempos do colégio. O observei por algum tempo.
Minha formatura foi... Normal. Nada demais aconteceu, mas ao mesmo tempo, aconteceu sim.
Primeiro porque foi a última vez que falei com meus pais. Eles só queriam avisar que, daqui para frente, o cartão de créditos estaria ilimitado para qualquer faculdade. E AH! Um parabéns forçado e de última hora. Desliguei a ligação depois disso.
Segundo porque o colegial em especial foi marcante para mim. De todas as formas possíveis, mas foi.
Sacudi minha cabeça ao lembrar daquele assunto. Já foi há muito tempo, disse para mim mesma, eu já deveria ter esquecido aquilo.
Certamente não minha culpa se eu não conseguia.
Eu achei que quando passasse o tempo, eu achei que quando eu sentisse o fim, eu achei que passaria. Não passa nunca, mas quase passa todos os dias.


Capítulo 19 – Último ato - {3}


-Mel, se você tivesse que escolher entre uma coisa que provavelmente faria você sofrer e não tivesse mais volta e uma coisa que faria uma outra pessoa sofrer, mas você não estando completamente feliz também, o que você escolheria? Por favor, não pergunte nada, só responda. – me perguntei se ela tinha entendido o meu raciocínio ou não.
Nós estávamos sentadas na minha cama depois que eu voltei para o quarto com olhos vermelhos e inchados. Aparentemente as olheiras já não eram suficientes.
Mas quando eu não soube explicar o eu havia acontecido – a verdade envolveria a identidade verdadeira de Luke e, por mais que eu confiasse em Mel, esse era um segredo dele afinal – ela havia me puxado para sentar em sua cama e agora eu estava lá, tentando arrancar um bom conselho, porque eu, estava completamente desfigurada para pensar por mim mesma.
-Bem, eu acho que depende da coisa e da pessoa. Se fosse alguém que eu nem conhecesse ou até mesmo algum familiar distantes – encare-se, meus pais – talvez a 2° opção. Agora, se fosse alguém que eu amasse como o David – ela sorriu ligeiramente. Eu não sabia que o ‘namoro’ dela com o David estava indo tão a sério – ou como você, eu acho que preferia a 1° opção.
Sorri com aquela pequena declaração. Céus, ela a melhor amiga que eu poderia encontrar aqui. Mel era um doce, mas, no fundo, fiquei preocupada com o que aquilo realmente implicaria.
-Mas e se você tivesse medo da primeira opção Mel, muito medo?
-Você ama o Luke Kaylee?
Ok, como ela sabia que nós estávamos falando dele? Eu não mencionei o seu nome e poderia ser algo sobre qualquer pessoa próxima de mim, até meus pais ou Nancy.
-Como...?
-Shh! Não me interrompa. Você o ama? – seus olhos eram totalmente a sério agora, fitando exatamente a resposta que eu daria. Aquela Mel saltitante estava perdida dentro de algum lugar de sua bipolaridade colorida e alegre. Ok, isso foi meio gay, mas esquece.
Nem pensei na resposta que daria, foi automático:
-Sim.
-Então acho que você já sabe a resposta.
E com isso, Mel me abraçou.
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Não podia dizer muito bem o que eu estava pensando, só que eu estava com uma incrível vontade de dormir e nunca mais acordar. Deus, eu não vou me suicidar antes que alguém pense algo do tipo.
Eu só estava cansada. Muito cansada.
Algum tipo de bloqueio impedia minha mente de pensar, e, um pouco depois de conversar com Mel, eu já havia pegado no sono sem nem ao menos jantar.
Tive um sonho meio estranho àquela noite.
Estávamos no pátio. Incrivelmente, estava tudo florido e colorido. A grama de um verde adorável. Estávamos somente Luke e eu, o resto estava deserto, sem nenhum sinal de outra presença humana no local.
Luke estava me beijando, quando ouvimos uma voz grossa de homem gritar atrás de nós para não nos mexemos. Lentamente, me virei para trás e me deparei com pelo menos uns trinta policiais armados se aproximando. Olhei para Luke rapidamente e seu olhar era assustado.
Mas, quando um policial apontando uma arma para nós agarrou Luke e o algemou à força, seu olhar era de fúria para mim. Não, eu estou mentindo. Era muito mais do que fúria, era de ódio, um ódio inigualável e rancor, muito rancor.
Não pude me mexer nenhum centímetro sequer. Simplesmente paralisei onde estava.
Uma dor subiu em meu peito, e automaticamente me senti responsável por aquilo. Céus, eu não queria que isso acontecesse, nunca quis! Mas, como se não bastasse o olhar, ele acrescentou gritando já entrando arrastado na viatura policial a alguns metros e mim enquanto eu não conseguia me mexer:
-Sua culpa Kaylee! Por sua causa eu estou aqui! Sua maldita culpa!
Sua voz ficou ecoando em minha mente até eu acordar num repente arfando em minha cama.
Demorou um bom minuto até eu perceber onde estava. Mel dormia tranquilamente na cama ao lado com minha respiração desregular e alta e meu coração batendo tão forte que o som ecoava pelo quarto silencioso.
Joguei minha cabeça no travesseiro de novo e tentei me acalmar antes que Mel acordasse.
Certo, eu não podia me desesperar, Luke provavelmente estava a uns cinco metros de distância de mim agora e deveria estar no décimo quinto sono. Ele NÃO estava preso e ele NÃO estava com ódio de mim. Pelo menos era no que eu acreditava.
Confesso que minha reação havia sido mesquinha e fútil. Eu não tinha que decidir nada, já estava decidido. Luke iria embora para se proteger e sim, por minha causa. Se Greg não tivesse me “atacado” naquele dia, nada disso teria acontecido para começar. Mas recapitulando, já estava decido. Luke iria embora e eu que fizesse bom – ou no caso mal – proveito disso. Simples assim.
Eu nunca iria deixar Luke ser preso por uma coisa que ele não fez. E sim, eu sabia com todas as minhas forças que não fora ele. E, eu nunca iria deixar ele ser preso por minha culpa. Minha maldita culpa.
Mesmo que, depois que ele fosse embora, minha vida virasse um lixo.
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Eu não sabia ou certo o que falar para Luke quando nos encontramos no pátio para irmos para a aula. Acho que não havia nada certo para se falar.
E, no entanto, enquanto ele se aproximava meu coração não pôde deixar de dar um salto assim como todas as outras vezes que eu o via.
-Oi Luke. – cheguei de mansinho e estava meio receosa em falar algo errado e de repente ele explodisse fora de órbita. Ué podia acontecer.
Eu não era a única receosa ali. Seus olhos me acompanharam preocupado por todo o trajeto até ele. Mas ele parecia distante, como se estivesse perdido em algum lugar por ai.
-Oi Kay. – tentou esboçar um sorriso, mas o máximo que conseguiu foi uma careta torta. – Meus pais acabaram de falar com o diretor. Eu estou, definitivamente, fora da escola.
Involuntariamente, meus olhos se arregalaram levemente.
-Mas tão cedo? – eu estava esperando, no mínimo, daqui a dois dias.
-Eu não tenho tempo a perder. É só o tempo de fazer minhas malas agora, mas precisava falar com você antes.
Não consegui pronunciar nenhuma palavra. Não poderia.
Mas estava cansada de ficar tão vulnerável. Estava cansada de sofrer.
-Então acho que é isso, né? Quer dizer, eu nunca mais vou te ver, vou? – minha voz soou um pouco mais confiante do que antes. Pena que era só por fora. Minha garganta ardia.
-Acho que não. – sua voz falhou um pouco. Ele pegou meu rosto entre suas mãos e depositou um leve beijo em meus lábios. – Tchau Kaylee.
-Tchau. – sussurrei enquanto ele dava as costas para mim e seguia para seu prédio.
Lágrimas escorreram levemente em minha face. Enquanto eu lutava com alguns soluços.


Capítulo 18 - Decisão - {3}


-Kay! – Luke balançava meus ombros com força. Não estava adiantando. – Kay, você está me assustando!

         Quem garante que ele não vá só passar um tempinho fora? Certamente não é o que você esta pensando.

         -Você... está falando sério? – minha voz falhou.

         Ele me olhou. Sua expressão pesarosa.

         -Não tem mais nada que eu possa fazer Kay. Essa não vai ser a primeira vez que eu vou ter que fugir de um lugar, e pelo visto não vai ser também a ultima.

         -Mas, e nós? – eu estava sendo cautelosa, não queria jogar na cara dele aquilo.

         Ele suspirou. Foi ai que eu vi que seus olhos também não estavam totalmente secos. Meu coração se contraiu.

         -Eu não quero fazer isso. Não quero. Kay, você é a única pessoa que eu confio, você sabe. E eu te amo. Muito. Eu só não posso ficar. Greg não é mais uma ameaça. Se duvidar, ele até já deu queixa. – ele parou um pouco, abaixou a cabeça e suspirou – O que eu mais queria, era poder respirar tranqüilo e dizer: “Eu vou ao mercado hoje e a polícia não vai me prender no caminho”. Mas eu não posso dizer isso. Eu não posso.

         As lágrimas continuavam a escorrer por meu rosto e eu acho que elas eram responsáveis por parte dele não estar me olhando.

         Era obvio que ele estava sofrendo. Era óbvio. Sua respiração tremula comprovava exatamente isso. Era óbvio também, que ele não era o único naquele cenário que estava desesperado. Simplesmente era demais, tanto para mim quanto para ele que isso estivesse acontecendo. Luke não merecia passar por uma coisa dessas, ficar se mudando de lugar em lugar a cada vez que sentir ameaçado e nunca poder realmente criar um vida lá. Eu sabia o porquê de quando nos conhecemos, ele não ter contato com quase ninguém a não ser Mel e David – e nem mesmo eles tinham a menor idéia do Luke estava passando.

 Ele só não queria se envolver, nem comigo, nem com ninguém. Porque seria mais fácil para ele se mudar de estado – ou, que Deus não permita, até de país – se não tivesse alguém lamentando a sua partida, muito menos sofrendo horrores com ela. E eu me encaixaria perfeitamente nessa pessoa.

         Vagamente, me perguntei se ele lamentava – algumas lágrimas extras surgiram com esse pensamento – de ter me conhecido. Seria tudo bem mais fácil se eu não existisse.

         Na verdade, eu sempre fui um fardo pra todas as pessoas. Meus pais nunca quiseram filhos, e, no entanto, eu nasci. Porém, eles devem me odiar desde o primeiro ultra-som. E agora, Luke estava sofrendo por minha causa. Se eu não existisse, ele não ficaria tão arrasado assim em partir.

         Mas eu não queria me lamentar daqui a sete anos falando que eu nunca tentei.

         -Luke, você está mesmo decidido mesmo a ir embora? – perguntei dessa vez erguendo seu rosto e olhando em seus olhos.

         -Sim. – sua voz não estava confiante nem de longe, mas era obvio que ele já havia decidido e não iria voltar atrás.

            -Ok, então, eu vou com você.

         -O... que?

         Tentei não me abalar com essa resposta espirituosa. Sim, eu estou sendo sarcástica.

         -Luke, se você for embora... – eu não consegui terminar a frase, tamanho o choro.

         Isso não podia estar acontecendo. Não podia. Eu nunca havia gostado tanto de uma pessoa. Nunca havia confiado tanto em uma, nunca havia me sentido tão segura com uma. Não era justo. Será que era pedir demais? Pedir que pelo menos, a única pessoa que eu realmente amei em toda a minha vida, pudesse viver em paz? Que pudéssemos aproveitar a vida juntas e legalmente, de preferência?

 É, pelo visto acho que deve ser pedir demais sim.

            Ele me abraçou e ficou em silencio por um tempo. Eu só soluçava em seu ombro. No fundo, acho que eu sabia o tempo todo que isso ia acontecer, sempre soube. Só que eu fui cega e burra a ponto de tentar não enxergar.

         E agora, estávamos os dois lá, sem saber o que fazer ou o que pensar. Sem saber o que iria acontecer daqui para frente.

         Ele me puxou pelo ombro e me encarou.

         -Kay, você não pode vir junto. Eu não posso fazer da sua vida uma perseguição que nem a minha. Você merece e você vai ter uma vida digna. Custe o que custar.

         -Mas eu não posso deixar você ir! Você não entende isso?

         -Sim, eu entendo. Mas, no momento, o mais importante agora é deixar você longe de tudo isso. Eu não estou pedindo e nem quero que você sacrifique a sua vida por mim! Você não entende? Eu só quero para você uma vida que eu nunca tive! Uma sem perseguições e medos. Não é fácil poder sair na rua sem ter medo de alguém te reconhecer!

         Nós nunca havíamos brigado antes, então me surpreendi com o tom que ele usou comigo.

            -Mas eu não preciso dela! Você sabe que eu não tenho medo disso.

         -Desculpe, mas isso eu não posso te dar.

         Virei meu rosto para o lado, apesar das lágrimas atrapalharem minha visão, acho que ninguém notou o nosso pequeno showzinho.

         -Como eu vou poder ficar aqui sem você? – e o encarei de novo. Minha voz agora era um pequeno fiapo do que fora antes.

         -Você viveu sua vida inteira sem mim antes. Certamente vai saber se virar. – ele disse bem mais gentil que antes tocando o meu rosto.

         -Promete que vai manter contato? – me perguntei se deveria estar parecendo uma criança de cinco anos birrenta que não ganhou um doce.

         -Vai ser melhor não. Pra nós dois. Eu falei com meus pais ontem à noite, eles concordaram com minha decisão. Provavelmente eu vou para algum lugar da Europa ou da Ásia, ainda não decidi direito. Estados Unidos estão fora de mão para mim.

         Eu acho que ele deve ter visto o olhar desesperado que lhe mandei, por isso acrescentou:

         - Eu sei que vai ser difícil Kay. Eu sei. Mas o que mais eu posso fazer? Você vir comigo está totalmente descartado, sem chances. E além do mais, é a coisa certa a se fazer. Deixar você poder viver sem ter que ficar olhando para trás a cada dez minutos para ver se está sendo seguida ou não. – ele segurou meu rosto entre suas mãos - Eu só quero uma vida melhor para você. E no começo, a minha vida vai ser um inferno, ter que acordar e saber que eu não vou poder te ver. Mas eu preciso tentar. Eu não vou conseguir esquecer, mas sei que, com o tempo, isso vai melhorar. Me promete que vai tentar viver a sua vida também?

         Seus olhos molhados, tão perto dos meus, clamando por uma resposta coerente. O que eu poderia fazer? Bater o pé e dizer que não? Essa era a vida dele afinal, e eu só era a namorada que estava fazendo um showzinho, o impedindo de poder se salvar a tempo. No final, eu era só isso.

         -Eu prometo. – olhei para baixo, meus olhos transbordando.

Ele levantou o meu rosto para ele de novo.

         Eu não queria que ele visse toda a dor que eu estava sentido, mas era inevitável.

         Franzi minhas sombracelhas, tentando não chorar.

            -Eu vou sentir a sua falta. – falei antes que me arrependesse. Mas minha voz saiu embargada e me perguntei se ele havia entendido alguma coisa.

         Luke encostou sua testa na minha.

         -Eu também vou, eu também vou. – sua voz não era mais do que um leve suspiro – Mas eu preciso fazer isso.

         E novas lágrimas derraparam silenciosamente para fora de meus olhos.



Capítulo 17 – Desespero - {3}


         Ok, eu resolvi levantar da cama. Com muito esforço, mas consegui.

         E eu estava certa quanto às olheiras. Minha pele clara sempre foi favorável a elas, por isso eu já estava acostumada a passar corretivo.

         Mas dessa vez, eu tive que me segurar para não cair para trás quando em olhei no espelho. Céus, eu deixava o conde Drácula no chinelo com aquelas olheiras. Morto-vivo seria uma boa classificação para mim agora. Ou zumbi.

         Depois de meu ‘pequeno’ ataque no banheiro, tratei logo de tomar um banho para acordar. Não adiantou, porém, eu não estava mais ligando para uma sonolência. Terminei de me arrumar e gastei uma quantidade de corretivo incrível só naquelas desgraçadas olheiras.

         Segundo dia consecutivo que eu não acordava bem. Ontem, um desastre aconteceu. Se hoje acontecer alguma coisa desse gênero, provavelmente, eu devo entrar em choque ou algo do tipo. Talvez um coma. Ok, exagerei.

            Mel, como sempre, estava elétrica. Às vezes isso dela me incomodava. Como a criatura podia acordar disposta-elétrica-saltitante todo santo dia?

         -E ai, dona TPM, passou o mal-humor? – ela perguntou. Era óbvio que ela estava sendo sarcástica.

         -Não. Não consegui dormir essa noite. – minha voz saiu desanimada.

         -Sério? Bem então eu recomendo uma boa dose de cafeína ou red bull, hoje tem teste de inglês, lembra?

         Não, eu não lembrava. Passaram pela minha cabeça uma porção de palavrões que eu não sei da onde vieram. Pelo menos inglês era fácil, eu não iria tão mal assim.

         -Fique tranqüila, eu sei me virar numa prova.

         -Ok, você é quem sabe.

         Saímos juntas do nosso prédio quando eu – e ela – vimos David vindo na nossa direção. Foi então que Mel teve uma atitude que me surpreendeu.

         Normalmente, Mel teria pulado para o lado de David e se alojado lá.

         Mas ela colocou mão em um dos meus ombros e disse preocupada:

         -Você está mesmo bem Kay?

         Olhei atônita para ela.

         -Claro, pode ir. Eu estou bem.

         Deu para ver que ela ficou meio indecisa, mas eu realmente já estava bem melhor que antes. Eu não iria dar outro piti que nem na véspera. No segundo seguinte ela já estava lá, andando na direção de David. Sorri ao pensar que Mel era uma boa pessoa. Meio elétrica, mas ainda uma boa amiga.

         Eu estava indo em rumo a minha sala sozinha quando ouvi Luke gritar o meu nome atrás de mim. Virei-me rapidamente.

         -Oi Luke. – tentei soar desperta e animada, tudo o que eu simplesmente não estava.

         -Kay, olha, eu preciso muito falar com você depois da aula.

         Seus olhos estavam, apavorados? Céus, céus. Era Greg, ele já havia ido à polícia, ele havia entregado Luke...

         -Mas o que aconteceu? Greg já te entregou a policia?– perguntei simplesmente desesperada.

         -Não, não é isso. Mas tem a ver. Ele não me entregou ainda. 

         Tremi involuntariamente na palavra ainda.

         Acho que ele deve ter visto o terror em meus olhos, porque de repente segurou meu rosto entre suas mãos e me olhou sério.

         -Nada vai acontecer com você, não precisa se preocupar.

         -Porque você esta dizendo isso? – minha voz soou esganiçada até para meus ouvidos e acho que ela deve ter falhado um pouco, não sei ao certo.

         Ele encostou a testa na minha.

         -A gente conversa depois da aula, ok?

         E depositou um beijo em meus lábios.

         Suspirei. Ele entrou em sua sala. Mas, quando estava na porta, olhou uma ultima vez para mim. Havia alguma coisa que eu ainda não havia notado. Talvez, preocupação ou medo. Estava tudo tão embaçado! Talvez um dia eu ficasse cega. Sei lá, pode acontecer.

            Respirei fundo.

         Tentei me acalmar, eu estava a ponto de explodir. Olhei vagamente ao redor. Havia só umas poucas pessoas ainda no corredor. Respirei de novo. Ok, vamos lá.

         Caminhei até a sala de biologia e sente-me em meu lugar. Devia estar parecendo um robô fazendo todas as minhas funções. Era assim que eu me sentia. Por dentro, angustiada. Por fora, um robô.

         Enquanto esperava o professor chegar, coloquei o rosto entre as mãos. Céus, eu iria desabar. Alguma coisa realmente grave estava acontecendo. Uma coisa grande. Pelos olhos de Luke, ele estava sofrendo com aquilo. Tinha a ver com Greg e sua ameaça, eu sabia. Mas, isso não era motivo para tanto desespero de minha parte, era? Luke e eu íamos conversar depois da escola, tudo iria se acertar. Bem, talvez não tudo, mas pelo menos alguma coisa iria se acertar. Eu não tinha a menor idéia do que ele queria conversar comigo depois da escola. E, ao mesmo tempo, eu tinha sim, uma idéia do que seria.

         Acho que não vi de verdade as aulas passarem. Nem mesmo o teste de inglês. Se você me perguntasse qual era a primeira questão, eu não saberia responder.

         O dia passou voando e a única coisa que me lembro, foi de silencio na hora do almoço. Pelo menos da minha parte e de Luke. Eu sabia que ele não iria falar nada até depois das aulas, não adiantava perguntar.

         Meu coração continuava apertado. Eu sabia que era ridículo, ma seu não conseguia reagir de outra forma. Era involuntário.

         Quando, finalmente, sai do prédio escolar, Luke estava me esperando na porta. Ele pegou na minha mão e me conduziu até a parte traseira do prédio. Assim que chegamos, ele me encostou na parede e me olhou. Olhou diretamente em meus olhos e eu não sabia decifrar seu olhar. Pelo menos não agora.

         Ótimo, chegou a hora, pensei.

         -E então, o que você queria conversar? – perguntei cautelosa.

         -Kay, eu preciso fazer alguma coisa, não posso ficar parado esperando ele me entregar. – ele falava pausadamente como se estivesse medindo suas palavras.

         -Fazer o que? O que nós podemos fazer Luke?

         -O que eu posso fazer. – falou tão baixo que eu não sei se ouvi direito.

         Não podia ser possível. Ok, ok. Respira, não pode ser isso que você está pensando. Ele está falando em outra coisa, ele está...

         -Eu preciso ir embora Kaylee. Não posso ficar. Eu preciso fugir antes que qualquer coisa aconteça – falou num jorro como que para acabar logo com aquilo.

         Eu não sei o que aconteceu direito, só sei que paralisei no meu lugar, meus olhos arregalados. Acho que nem piscava. Mas, de algum jeito, eu podia sentir as lágrimas começando a se formarem de novo em meus olhos.